Foi num pequeno clube noturno da cidade que Fabio a viu pela primeira vez. Escorado no balcão ele pedia um uísque quando a notou numa mesa. Ela bebia sozinha o seu drink. Devia ter por volta de trinta, mas seu corpo ainda não passara da faixa dos vinte, vestia um vestido preto longo, assim como seus cabelos. Não olhava para a porta a toda hora, o que fez Fabio acreditar que talvez não esperasse ninguém em especial, talvez esperasse qualquer um, e quem sabe não fosse ele. Pegou seu uísque e foi ate a mesa dela. Apontou com o dedo em direção a cadeira vazia a sua frente:
-Posso?
Ela não disse nada, apenas balançou a cabeça positivamente enquanto seus olhos o examinavam. Ele seguiu:
-Você espera alguém?
-Quem sabe!
Fabio gostou da resposta, era dúbia, mas lhe dava esperanças. Tentava se lembrar de algo que não lhe parecesse uma cantada antiga, mas lhe escapou:
-Não me lembro de tê-la visto por aqui antes.
-É a primeira vez que venho a esse bar. Meu namorado não gostava de sair muito.
-Seu namorado? E você continua namorando?
-Não, acabou. Já faz uns três meses.
-É, mas uma mulher linda como você não deve ficar muito tempo sozinha. Deve haver um monte de caras atrás de você.
-A verdade é que eu não estou querendo me prender a ninguém no momento, quero curtir um pouco a minha liberdade.
-Eu também não procuro nada serio, quero mais é curtir a vida.
-E essa aliança de noivado?
Fabio olha o dedo e nota a aliança de noivado, ali, descaradamente o entregando. Era natural que depois de tanto tempo flertando em barzinhos, pelo menos uma vez, ele acabasse esquecendo de tirar a dita cuja do dedo. Mas precisava ser justo com aquela gata? Atrapalhadamente ele tenta se explicar:
-E que…essa aliança…eu tinha…esquece.
Ele vai se levantando da mesa, mas ela segura a sua mão:
-Pode ficar, eu não me importo. Meu nome e Simone.
Fabio se senta e ali fica pelas próximas duas horas numa conversa calorosa. Quando a conversa esquenta demais eles decidem seguir para um motel. Lá Fabio tem a melhor noite de amor de sua vida, nada parecido com a sua noivinha, que era um lanchinho comparado com aquele banquete. Na manha seguinte eles se despedem, Fabio pede o telefone dela já esperando que ela diga que aquilo foi uma noite de loucura que não se repetiria. Mas Simone da o telefone dizendo que estará livre na quinta. Fabio esta nas nuvens, durante o dia não consegue pensar em mais nada a não ser naquela mulher deslumbrante. Telefona para a noiva e arranja uma desculpa para não vê-la. Depois de uma longa espera chega a quinta e o ritual se repete: drinks, uma conversa apimentada e um gram finale no motel. De manha Simone lhe diz para telefonar no sábado, se não houvesse problema por causa da noiva. Fabio diz que não tem problema e que se preparasse para sábado. Na verdade Fabio já tinha tudo muito claro na sua cabeça. No sábado ele a encontra, deslumbrante, no mesmo clube de sempre:
-Oi, gato.
-Oi, meu amor.
-A noivinha não reclamou de você deixá-la sozinha sábado de noite?
-Reclamou, mas não faz mal. Agora é ex-noiva.
-Como è?
-È isso mesmo, acabei tudo. Eu já não agüentava mais ela. O que eu quero mesmo è ficar com você.
-Então é isso? Você tinha de estragar tudo mesmo.
-Estragar o que?
-Eu já tinha te dito que eu não quero nada de serio. As coisas estavam indo tão bem assim, sem preocupações, sem cobranças.
-Mas não precisa ser assim. Nos podemos nos dar muito bem juntos.
-Pois saiba que eu não quero mais nada com você, adeus.
Simone deixa a mesa e o bar. Fabio fica ali bebendo e vendo a sua vida vendo a baixo. Depois de muitas doses ele decide voltar pra sua antiga noiva, ou pelo menos tentar. No dia seguinte ele vai a casa da sua ex-noiva e pede pra voltar. Mas ela não quer nem conversa, não depois dele ter dito que a traia freqüentemente e que ela parecia um vegetal na cama. Ate Fabio concorda que pegou meio pesado e resolve desistir, não tinha volta.
Mas ele não podia mais viver sem Simone. Ele a telefonava, mas ela desligava na sua cara. E foi numa noite, depois de percorrer muitos bares da cidade que Fabio a encontrou sentada a uma mesa, exatamente como a vira na primeira vez. Ele vai ate a mesa dela, que ao notá-lo faz menção de levantar da mesa e ir embora. Mas antes que ela saia, Fabio balança a mão na frente do rosto de Simone:
-O que é isso, Fabio?
-Não esta vendo a aliança? Noivo de novo. E agora com casamento marcado.
Ela se acalma e volta se sentar. Fabio explica que a noiva aceitou-o de volta desde que marcassem o casamento. O ritual de sedução se repete e os dois acabam no motel.
Às vezes Fabio ainda pensa em contar toda a verdade a Simone, que a ama e que não existe, literalmente, mais ninguém em sua vida, mas então o medo de perdê-la volta e ele recoloca a aliança do falso compromisso. Com o tempo Fabio foi aprendendo truques pra apimentar a sua relação, como passar um pouco do perfume da sua suposta noiva pelo corpo todo. Ou então se esfregar na parede de tijolos da sua casa para simular arranhões apaixonados da sua falsa noiva. E depois do falso casamento as mentiras atingiram um outro nível. Fabio ate teve de gastar um dinheirão para que um cara fizesse o álbum de casamento dele, é claro que tudo em montagem de computador. Tudo isso funciona como um ótimo afrodisíaco para Simone, que o leva as alturas. Os amigos de Fabio não entendem o porque dele não sair mais de casa, mas ele tem de ficar esperando os telefonemas que Simone faz esperando que a mulher dele atenda, para isso Fabio gravou uma fita com uma voz feminina perguntando quem fala. Fabio percebe que toda vez que a sua mulher liga ela fica muito excitada. Fabio não faz nem idéia de como isso vai acabar, já fazem mais de seis meses de casamento e ele ainda não tem coragem de contar a Simone que ela não é sua amante, que ela é a única mulher na sua vida. Ele já planejou para que sua falsa mulher morresse em um acidente de carro para que ficasse livre, mas teve medo de que isso afugentasse a Simone. Hoje a relação anda meio parada, Simone parece ter começado a perder o interesse, pelo menos ate semana que vem, quando Fabio contara a ela que ira ser pai…